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quinta-feira, 27 de outubro de 2016

A Primavera Secundarista e o inverno social

Uma aluna do Paraná foi até a tribuna do Estado discursar. Embora suas ideias não concordem com as minhas sobre os meios, acredito que temos o mesmo objetivo. Estudantes secundaristas, eu acredito na intenção de vocês. No apelo de vocês. Acho importante e especial que tenhamos espaço de discussão desde cedo. Os estudos diversos sobre educação mundial apontam que o ensino médio(não necessariamente com este termo) PRECISA ser um espaço reflexivo. Voltado ao senso crítico. Eu concordo. Não se faz cidadãos sem base crítica e retórica, não se faz reflexão sem conhecimento. Precisamos de prática e até mesmo de guia. Mas, eu me entristeço em dizer que vocês tem ao lado de vocês esferas da sociedade que querem abusar de suas iniciativas. Aprendi que ainda não temos condições de fazermos movimentos sem bandeira, sem partido. Vocês estão sendo influenciados e/ou incentivados por bandeiras, por pontos de vistas que não podem deixar de ser políticos e partidários.

 Há provas contundentes na história mundial apontando que certos movimentos sociais incitam a estruturação de um modelo falido de sociedade. Um modelo utópico que ignora os desejos individuais de cada um de nós. Um modelo em que NUNCA uma estudante estaria sendo recebida pelo seu Estado para ter suas palavras ouvidas. Nem sequer apenas assistidas. Um modelo que iguala por baixo, incentivando ainda mais uma divergência entre população e Estado. Vocês deveriam saber disso, está no currículo ensinar a formulação e os conceitos dos estados socialistas e capitalistas. O segundo tem problemas, MUITOS problemas, mas em comparação ao socialismo ele é um paraíso. Não precisa concordar comigo, mas compare. Compare a história. Pense na realidade do ser humano, em seus desejos, seus estímulos, naquilo que nos move.

 Ao assistir sua par discursando o que mais me incomodou entre suas muitas divergências comigo, foi a ideia de que o Estado foi responsável pela morte do estudante Lucas. Ela citou o ECA, alegando que o Estado é responsável. Mas preciso dizer que vocês muito se enganam quando transferem essa responsabilidade. O estudante estava num local de responsabilidade do Estado, porém, ao ocuparem esse espaço voluntariamente, em comunhão, vocês também expulsaram a presença do Estado. A presença de policiamento, por 'n' motivos, foi impossibilitada. Vocês disseram "não" a presença e ao cuidado do Estado. Poderiam estar pedindo apenas a não proibição, a não intervenção, mas uma consequência disto, foi ter para vocês todo o espaço e responsabilidade do que acontece ali. O aluno estava consumindo junto com seu assassino substâncias ilícitas. Novamente, voluntariamente. E a briga que levou ao óbito também ocorreu em decorrência dessa droga. Não culpe o Estado por uma instabilidade que o espaço ocupado de vocês permitiu, que a falta de segurança e controle permitiu. Que a falta de líderes e responsáveis permitiu.

A sociedade sente a morte de suas crianças e adolescentes e sofre por isso, mas não a acuse injustamente querendo isentar o movimento de vocês do que ocorreu. Somos responsáveis pelas nossas atitudes. Somos responsáveis, ainda que fora de uma esfera criminal, por aquilo que cabe a nos escolher. E vocês escolheram, ainda que por um motivo nobre, se colocarem em perigo. Vocês estavam cientes disto. Somos animais. E quando colocados sob pressão em circunstâncias estressantes, ainda mais quando usamos de substâncias que nos tiram de nosso total controle mental, longe dos olhos da lei, estamos criando problemas para nós mesmos.

A responsabilidade é de todos vocês que se colocaram ali, de quem teve a ideia, de quem estava liderando, de quem estava incentivando. Principalmente dos adultos que estavam envolvidos e não se importaram com a segurança de vocês! Principalmente dos adultos que deveriam estar zelando pelo respeito às leis ainda dentro desse espaço. E por fim, a responsabilidade foi dos dois envolvidos que além de todos esse viés, além de usar de uma droga sintética se permitiram entrar em confronto um com o outro como meros animais e não racionais. O Estado não estava ali dentro porque vocês mesmos o tinham expulsado.

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