Pages

domingo, 17 de julho de 2022

C.R.F

 

Uma cicatriz ainda é uma cicatriz, não importa se foi feita por um cirurgião ou por um machucado bobo, não importa quanto tempo ela existe, não importa muita coisa.

Ela continua sendo uma cicatriz.

Existe um caminho feito dentro de mim onde o caminhão passou por cima da minha ingênua ilusão sobre você. O caminhão foi pesado e abriu sulcos na terra, deixou a marca dos pneus, saiu levantando terra. O que resta agora além de tentar aterrar e consertar os estragos?

A cicatriz ficou.

Há marcas de você na minha memória. Há lembranças da cor dos seus olhos, da forma que você ri, de como você andava meio sem jeito antes de ir comprar café. Há marcas de como você posicionava a sua mão no meu pescoço e como eu sentia um arrepio na espinha. Há o seu cheiro e o seu calor. Há marcas suas aqui.

Não é que eu as queira. Eu não quero. E ainda assim não consigo abrir mão.

Do que achei que fôssemos, não restou nada. Levantou o pequeno pé com raiz e tudo.  Como um vendaval – repentino, assustador e incontrolável.

Você se fez um estranho com a mesma rapidez que se fez relevante.

Quem é você, afinal? Aquele que me deixava deitar em seu peito e me abrigar no seu carinho ou o que parou de se importar no intervalo de algumas horas? Quem é você? O que você sente, o que você pensa, como você enxerga a mim quando – e se – olha para trás?

Não assimilo a pessoa com quem eu tinha tanto em comum – com quem era fácil sorrir e estar – com esse estranho que me olha de volta quando vejo sua foto.

Me sinto tão boba agora por ter acredito tanto em você e tanto no que achei que existia que não fui capaz de me impedir de fechar os olhos. Tudo que você fez foram só formas para me enganar ou houve alguma verdade naqueles momentos? Foi calculado ou foi verdadeiro?

Há marcas suas aqui que eu não consigo apagar. Eu as ignoro. Ignoro até que seja fácil, vou ignorar até que elas não pareçam nada além de uma cicatriz branca, antiga, já esquecida. Mas uma cicatriz ainda é uma cicatriz.

Você percebe que quando foi embora, me tirou não só os beijos e a ilusão, mas me tirou também um amigo? E eu agora não se dizer se alguma coisa foi real. Do que valeu tudo que éramos compatíveis, tudo que parecíamos confluir? Você desafinou todas as notas quando parou de tocar.

A música realmente tocava enquanto eu estava dançando ou eu estava escutando só o que você queria me fazer escutar?

Há marcas de você aqui, marcas dos seus dedos, dos seus beijos, dos seus discos, da sua playlist, dos seus óculos de intelectual.

Há marcas minhas em você? Há alguma cicatriz, há algum arrependimento em você sobre sua decisão? Ou foi fácil ir embora do mesmo jeito que foi fácil chegar?

Tudo me lembra você. O que eu odeio. Odeio que você tenha peso ainda em qualquer coisa que seja. Mas tudo que quero odiar por sua causa me lembra você. E tudo que eu amava em você, me faz distante dos outros. 

Há marcas de você aqui. Marcas tão sutis que eu me distraio até me deparar com uma delas, me lembrando do que foi. E me lembrando de que talvez nunca tenha sido.

Me responde, alguma coisa foi real?

Compartilhe!

Powered By Blogger